O site do CTAv apresenta uma entrevista com a diretora Juliana Reis, uma das contempladas com o serviço de mixagem no último período de 2011.
Jornalista na origem, viveu na França por 16 anos. Lá, obteve mestrado em cinema pela Paris VIII, escreveu e dirigiu 5 curtas, além de vídeos institucionais para a UNESCO e SOS Racisme. Recebeu prêmio pela adaptação de Cronopios y Famas, de Julio Cortazar, e subvenções do CNC, Kodak e de Conselhos Regionais da França. No Brasil desde 2005, escreve projetos de ficção para João Jardim e Murilo Salles (O Fim e os meios, vencedor dos editais Petrobras 2007 e OI Futuro 2008) e desenvolve roteiros para os diretores Henrique Saladini (ALtobiografia), Themba Sibeko (Passarês, da África do Sul) e Kim Chapiron (L’homme rouge, da França). Faz parte do Colégio de Leitores do Centre National de La Cinematographie e da associação Autores de Cinema. Professora da Escola de Cinema Darcy Ribeiro e da Faculdade de Artes do Paraná, além de coordenadora da Oficina Escrevendo & Filmes, parceria com NPDs.
Princesinhas, uma co-produção com a França, será filmado no segundo semestre de 2012. DISPAROS, filme apoiado pelo CTAv e primeiro longa-metragem de Juliana como diretora, está em fase de finalização e tem lançamento previsto também para este ano.
Como surgiu a idéia inicial para a realização do filme?
DISPAROS narra a história real, ocorrida com o fotógrafo profissional Bruno Veiga, em agosto de 2007. Mas o meu desejo de ficção nasceu, realmente, da constatação de que todos ao meu redor tinham uma história semelhante para contar. O roteiro foi então construído sob um patchwork de relatos reais referentes a episódios de violência urbana, mesclando paranóias, pré-julgamentos e atitudes impulsivas, que pouco se relacionam com o que deveria ser a vida do homem em sociedade.
O filme foi, de alguma forma, inspirado na sua própria experiência de vida?
Quando uma pessoa do seu círculo, alguém que você considera um ser super “paz e amor”, te declara que ela admira quem está passando na rua e resolve atropelar alguém que ela julgou ver assaltando outro, e fala de solidariedade humana… isso me interpelou! Essa foi a experiência pessoal que me impeliu a fazer o filme.
Como foi o processo de financiamento do projeto?
Selvagem. É o mínimo que posso dizer. Nenhum edital ganho; salvo, na verdade, o apoio do CTAv, mas que interveio já no meio da pós-produção. Todo o dinheiro foi buscado junto a empresas que nunca tinham patrocinado cultura. Tivemos que aprender como se faz, para então ensiná-los a nos apoiar. Fato é que aprendi demais, e sobre cada fase do processo. Também nos lançamos no financiamento participativo (Crowdfunding) e tivemos a alegria de merecer a confiança (algumas vezes bastante generosa) de pessoas do Brasil inteiro e completamente desconhecidas para nós. Agora que o filme já se defende sozinho, possibilidades de apoio começam a surgir. É um sentimento extremamente gratificante.
Como foi a experiência de realizar a mixagem do filme no CTAv?
Imaginar que, depois de um processo tão “guerrilha”, ia me deparar com o equipamento rolls royce do CTAv deve ser o que chamam de “depois da tempestade, vem a bonança”. E isso sem falar da adesão irrestrita ao processo, oferecendo sempre o que o filme precisava e na medida do possível; sem dificuldades de ordem burocrática e trabalhando com técnicos da pesada. A reorientação do CTAv, no sentido de contribuir com projetos de filmes de ficção e de interlocução com o público, é extremamente feliz e me sinto privilegiada por ter participado na primeira leva. Acredito que devamos sair da ideia de que o cinema brasileiro tem que se dividir entre blockbusters bobos e herméticos filmes “cabeça”. Nada resiste a uma boa história, e isso nós temos para contar. Só posso dizer meus parabéns e muito obrigada!
Como você vê os processos de distribuição e exibição do filme brasileiro?
No final de 2010, o fenômeno Tropa de Elite 2 veio mexer (e oxigenar) o panorama da distribuição de cinema no Brasil, com o lançamento de um empreendimento como a NOSSA – uma plataforma de distribuição independente, idealizada pelo diretor Zé Padilha e colocada em ação com a parceria de Marco Aurélio Marcondes. Nesse novo modelo, é o próprio produtor que vai buscar recursos incentivados pra distribuir seu filme, no lugar dos distribuidores. Se ele não dispensa do processo a figura compulsória do distribuidor, sempre o primeiro a se reembolsar de recursos que ele não arriscou, ao menos o impele a se investir de maneira mais engajada no filme que distribui. E isso, por si só, já representa um enorme ganho de qualidade na maneira de se trabalhar o filme brasileiro. Aliado a isso, subsídios como o PAR (Premio Adicional de Renda) oferecido aos produtores, distribuidores e exibidores que trabalham nos filmes nacionais, ajudam a potencializar o mercado. E o resultado dessa mágica é o publico, comparecendo cada vez mais aos nossos filmes.
Quais são os planos para o futuro lançamento do filme?
Estamos em plena fase de tempestade de ideias, formulando a estratégia da nossa comercialização. Só dá para dizer que não vamos pegar muitos caminhos já percorridos. É a nossa meta.