O filme “O Céu no Andar de Baixo” foi o vencedor do Prêmio CTAv para Melhor Curta Metragem Ficção Olhar Brasilis no Curta Santos 2011. Confira a entrevista com o diretor Leonardo Cata Preta.
O filme “O Céu no Andar de Baixo” foi inspirado na sua própria experiência de vida?
Além de cineasta eu também trabalho com artes plásticas e ilustração. As ideias do filme surgiram a partir de imagens que produzi e que mais tarde foram incorporadas de sentidos narrativos. Também serviram de referência observações de fatos curiosos do cotidiano, de pequenas histórias colhidas em conversas com amigos e das leituras dos escritores a que tenho apreço (A cena da árvore por exemplo veio da leitura de um poema do Paul Valery).
Como foi o processo de animação do filme?
Utilizamos técnicas de animação 2D produzidas inteiramente em processo digital, ou seja, não há intermédio físico seja em papel ou acetato dos frames da animação, nem mesmo do storyboard. Ainda assim foi um processo que se estendeu por quase dois anos.
A sua formação é na área da animação?
Sou formado em Artes Plásticas e em Cinema de Animação pela UFMG.
O filme foi premiado no CurtaSantos. Você já conhecia o festival antes da inscrição?
Sim, já conhecia o festival e sempre que tenho alguma produção disponível procuro inscrever. O CurtaSantos é uma das janelas de exibição que mais prezamos e desejamos.
Quais são os planos para o futuro do filme? Ele será lançado em DVD ou exibido na televisão?
Já fizemos lançamento independente em DVD do filme e temos conseguido distribuir e comercializar cópias, ainda que em escala reduzida. Fechamos contrato com uma agência de distribuição e já temos encaminhados os primeiros resultados disso. O filme deve ser exibido na TV MINAS, um canal mineiro com foco em formação, cultura e entretenimento, e em outros canais que propiciarem sua veiculação.
Antes de realizar “O Céu no Andar de Baixo”, como foi a sua experiência no meio audiovisual?
Sempre tive alguma relação com o universo das artes visuais, seja como artista plástico, ilustrador ou designer. A realização audiovisual começou a acontecer de forma muito natural pois o contexto de produção, a partir do início dos anos 90, passa a se apresentar de forma muito mais democrática e acessível. Além disso a evolução acelerada da internet, em termos de acesso e formas de produção de conteúdo, dos softwares de edição e criação multimídia, viabilizou o surgimento de novos conceitos e formatos audiovisuais que acabou atraindo artistas que preconizavam outros tipos de suportes. Desde o final dos anos 90 venho produzindo pequenas peças audiovisuais de caráter mais experimental, veiculadas principalmente na internet. Minha produção “cinematográfica” surgiu a partir da graduação em Cinema de Animação. Desde então produzi dois curtas metragens que percorreram o circuito de festivais e mostras de cinema: MORADORES DO 304 (2007), filme de conclusão de curso, e o atual O CÉU NO ANDAR DE BAIXO (2010). Além disso trabalho com direção de arte, pós produção e animação em filmes de outros diretores.
Como você vê o mercado de cinema? O que você gostaria de mudar no modelo atual?
O mercado é promissor mas também é multifacetado demais para ser tratado isoladamente como “mercado de cinema”. Hoje em dia temos uma grande variedade de formatos, público, canais de exibição e de relações mercadológicas. Eu gostaria de mudar muita coisa. Acho que o produtor audiovisual nunca estará satisfeito justamente por conta da diversidade de conceitos, origens geográficas, culturais e políticas em que cada realizador se coloca. As formas de produção são diversificadas também e no meu caso, que faço filmes utilizando técnicas de animação, o que tenho mais urgência em mudar é o tratamento que esse tipo de produção recebe. As técnicas de animação são formas de produção audiovisual, assim como as técnicas de live action, no entanto os filmes de animação são classificados como um gênero de cinema em si, quando na verdade os recursos de animação existem para servir aos verdadeiros gêneros como documentários, instalações audiovisuais, experimentações e como mais comumente ocorre, ao gênero da ficção. Esse tipo de tratamento é problemático pois limita e setoriza os filmes feitos a partir de técnicas de animação à nichos isolados, favorecendo idéias equivocadas como por exemplo a associação restrita de animação ao entretenimento infantil ou a idéia de que filmes animados são um subproduto do cinema live action. A maior prova dessa disseminação preconceituosa e equivocada é que quem produz filmes de animação para cinema, geralmente não é chamado de cineasta ou realizador, mas sim de “animador”. Alguns festivais de cinema promovem mostras competitivas de filmes de animação dentro dos programas de exibição. A princípio isso favorece a inclusão de mais filmes feitos com essa técnica, por outro lado impede esses mesmos filmes de concorrerem diretamente com os filmes de live action aos prêmios técnicos de melhor roteiro, som, fotografia, ator ou atriz, montagem e outros. Isso demonstra uma falha grave da real compreensão dos processos e meios de produção de animação, já que os filmes animados também passam por processos de roteiro, fotografia, montagem, direção de arte, atuação (é preciso atores para que se crie a vocalização dos personagens), etc. Acho que esse posicionamento de curadoria é equivocado e prejudicial aos realizadores que produzem filmes animados.