O Labirinto, Gleysson Spadetti

O Labirinto, Gleysson Spadetti

A produção cinematográfica brasileira tem em seu histórico períodos de efervescência e latência produtiva. Desde a Bela Época, passando pelos cine-jornais, até os filmes de Humberto Mauro e a era dos grandes estúdios como a Cinédia e a Brasil Vita-Film, o cinema brasileiro produziu em todos os gêneros: ficção, documentários, musicais, chanchadas, animação; ganhou o rótulo de “marginal”; e influenciado pelas vanguardas européias, alcançou o status de Cinema Novo.

O cinema também sofreu com a censura política no período militar; teve seu apogeu nas décadas de 1970-80, sob os auspícios da Embrafilme; e gradualmente retomou às telas, a partir da segunda metade da década de 1990, após período de desastrosa política cultural no Governo Collor. Nessa trajetória, no entanto, um tipo de produção se manteve distante do mercado exibidor, porém com significativa ascendência em festivais e mostras: os filmes universitários.

No âmbito da atual produção universitária no país, o CTAv convidou Guilherme Tristão, coordenador do Festival Brasileiro de Cinema Universitário, realizado anualmente no Rio de Janeiro, e Aída Marques, chefe do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e professora da disciplina “Realização de Filmes”, disciplina final da graduação em Cinema.

As escolas de cinema surgiram a partir dos anos 60. Disputam a primazia a Escola de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais (atual PUC-MG), em Belo Horizonte, e o curso de Cinema da Universidade de Brasília (UnB). Em seguida vieram os cursos da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, do Instituto de Arte e Comunicação da Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ e o curso de Cinema da Escola de Comunicações Culturais – mais tarde, Escola de Comunicações e Artes – ECA- da USP.

Para Aída Marques, a UFF, a USP e a FAAP podem ser consideradas as universidades principais no audiovisual do Brasil. E essa afirmação categórica tem razão de ser. Para melhor entendê-la vamos recuar a fita há quinze anos quando os alunos das três respectivas universidades se reuniram em um projeto chamado Bem Vindo a Sal Grosso, para filmar um curta-metragem coletivo e dessa idéia nasceu o FBCU – Festival Brasileiro de Cinema Universitário.

Esse projeto surgiu durante o “apagão” das telas no governo Collor, que não chegou a afetar a produção audiovisual universitária, uma vez que os filmes contavam com verbas de outras fontes: Ministério da Educação, Governo do Estado de São Paulo, além de instituições da esfera privada. A produção universitária era constante, havia um estoque de filmes, e por conta disso, começou a participar de mostras e festivais. Nesse processo “surgiu a idéia de se fazer um festival mais abrangente, que pudesse demonstrar que havia uma produção de cinema no Brasil, e que essa produção era universitária, grande, importante e premiada,” diz Guilherme Tristão.

“Normalmente, as produções universitárias caracterizam-se pela dificuldade na obtenção de recursos, sempre escassos. Por outro lado, acredito que a ausência de compromissos comerciais ofereça um espaço maior para experimentação. A tecnologia digital provocou uma multiplicação da produção universitária, tanto dentro das disciplinas, quanto àquelas que chamamos de livre iniciativa dos alunos”, afirma a professora Aída.

O FBCU em 2008 entra na sua 14ª Edição e é limitado a universidades, contudo não há restrição sobre o curso participante. Podem ser alunos de medicina, educação física etc.; desde que atendam aos requisitos básicos propostos pela equipe técnica – um número mínimo de estudantes deve ser o ponto chave da produção.

“Não só os cursos específicos de cinema aumentaram, mas agora também os cursos de comunicação começaram a produzir muito material audiovisual, influenciados pelo barateamento das tecnologias” diz Guilherme. Isto se deveu ao processo de retomada da produção nacional, que expandiu o número de cursos de cinema, não vinculados aos cursos de Comunicação, para atender a uma demanda de alunos que cresce a cada semestre.

“O curso de cinema da UFF recebe semestralmente 25 alunos, 20 destes se formam e são encaminhados para as mais variadas áreas de trabalho, como televisão, publicidade, cinema, agências estatais”, diz Aída.

O Festival tem como preceito exibir todos os filmes inscritos, na última edição foram 350, entre nacionais e internacionais. Devido ao surgimento de cursos técnicos de cinema, como os da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, o FBCU abriu mostras especiais para exibição de filmes realizados em escolas privadas e públicas, desde que possuam cursos específicos na área de cinema. “O novo desafio é incorporar essas novas escolas que surgiram ao longo dos últimos anos.” diz Guilherme.

O foco atual do FBCU é estimular a circulação das produções universitárias de uma maneira mais ampla dentro da própria universidade e junto ao público. Para isso, logo após a exibição dos filmes são realizados debates entre o diretor/produtor e os espectadores. Outra novidade do FBCU é a participação de filmes que tiveram sua exibição via Youtube, feitos através de aparelhos celulares.

Outros festivais universitários também têm se destacado, é o caso do PUTZ (Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba) e o CATAVÍDEO (Mostra de Vídeos Catarinenses). O FBCU de 2008 está marcado para o período de 31 de julho a 10 de agosto próximo. Outra possibilidade para difusão de filmes universitários é o canal de TV da Produtora Abril que exibe filmes realizados dentro das universidades pelo FIZTV (WWW.fiztv.com.br).

Cinema Universitário e o CTAv

O CTAv ao longo de sua história firmou uma relação muito próxima com as produções universitárias. Exemplo disso é a parceria cedida aos alunos da Universidade Federal Fluminense que utilizam equipamentos e estúdio do CTAv para realizarem seus filmes. “Eu usei, como aluno, as facilidades de laboratório que o CTAv sempre teve, como a transcrição, a moviola e o estúdio de mixagem” conta Guilherme.

Pelos corredores do CTAv toda uma geração de cineastas desfilaram seus filmes. Marcos Magalhães, Telmo Carvalho, Paulo Halm são exemplos hoje consagrados, e os mais recentes como Gleysson Spadetti (O Labirinto – foto), Fábio Terre (A distâncias entre as margens) e Rafael Saar (A Carta) configuram uma nova geração que luta pelo seu espaço no mercado cinematográfico tendo o CTAv como aliado.