Selecionado no 1º Período de Serviços CTAv, na categoria Mixagem, O Melhor Amigo é um filme de Allan Deberton que narra  história de amor platônico entre jovens amigos. Formado em cinema pela Universidade Federal Fluminense  e em ciências contábeis pela Universidade Estadual do Ceará, o diretor, Allan Deberton, teve seu filme de estreia, Doce de Coco (2010),  rodado em  50  mostras e festivais de diversos países, ganhando 25 prêmios e  a indicação ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro de 2012.

Em O Melhor Amigo, além da direção, Allan Deberton assina o roteiro e também a produção do filme. Confira a entrevista que ele deu ao site do CTAv:

Allan Deberton - Diretor

O roteiro de “O Melhor Amigo” é puramente ficcional ou baseado em fatos reais?

Allan >>> Meio a meio. As emoções são sempre reais, pego emprestado histórias particulares e as transformo. Tem muito de mim no “Doce de Coco”, por exemplo, o amor familiar, o desejo de ir embora e o de ficar. Nasci no interior e já sai de casa várias vezes, nesta saga de fazer cinema. Em “O Melhor Amigo” não é diferente, pois fala de amor, de juventude, de descobertas. Se perceber, é algo que também está no Doce de Coco, então, acidentalmente, vi que o tema é recorrente em mim, gosto de falar sobre isso. Embora tenha feito uma abordagem gay, a questão do amor platônico, que é o tema de “O Melhor Amigo”, é algo tão comum em todos nós, não é? Quem nunca se apaixonou pela professora? Ou pelo colega de trabalho? Ou pelo melhor amigo ou amiga e nunca teve coragem de dizer? É um filme de algo que já vivemos. Espero que o  público se identifique.

Como surgiu a ideia do bar com telefones que vemos no curta?

Allan >>> Quando eu era criança escutei uma tia minha falar com a amiga sobre um bar com telefones que tinha em Fortaleza, na beira-mar. Faz tempo, eu morava no interior, não cheguei a ver, mas isso ficou no meu imaginário… Parece que o bar fechou faz muitos anos…. Achei isso tão exótico e interessante que na hora de roteirizar veio esta imagem do bar colorido, com telefones, desconhecidos conversando… Sou meio retrô, saudosista. Faria mais sentido, nos dias de hoje, fazer a cena com aplicativos de celular, atualizar a coisa. Mas me dei o presente de voltar a minha infância e brincar com este bar que eu imaginava.

Sobre a escalação do ator Jesuíta Barbosa, que interpreta o protagonista, você já tinha referências dele ou foi somente durante os testes que pôde conhecer seu trabalho?

Allan >>> O Jesuita havia me mandado o material dele na época do “Doce de Coco”, quando eu estava escalando o garoto pra cena do rio. Eu queria conhece-lo, sentamos pra conversar, mas não chegamos a fazer o teste, pois eu queria um ator de corpo mais robusto, tipo garotão do interior e o Jesuita não era assim. Anos depois, quando fazia casting de “O Melhor Amigo”, convidei-o pra o teste, mas pensei que ele nem pudesse ir, pois tinha acabado de voltar da Alemanha, das filmagens de “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz. Mas ele foi pro teste. E fiquei muito feliz em vê-lo em cena, foi a primeira vez que o vi interpretar. O papel era dele, claro. E no set, enquanto filmava, eu não precisava dizer nada. Ele entendeu o personagem e as sensações que eu queria mostrar. Foi um presente pra mim. O Jesuita vive, não faz de conta. Sou fã dele. 

O projeto contou com algum apoio/ patrocínio?

Allan >>> Sim, foi aprovado no Edital Ceará de Cinema e Video 2011 e contei com alguns apoios de laboratório e câmera, prêmios do Cine Ceará, que ganhamos com o “Doce de Coco”. O orçamento era apertado, tive que fazer empréstimos pra finalizar, pois me aventurei a filmar em 35mm, que é muito caro. Tinhamos uma Aaton 35mm disponível de graça, então não resistimos a tentação.  Mas filmar em 35mm não faz muito sentido hoje em dia, é meio contra-mão…

Como você percebe o resultado final da mixagem executada em sua obra pelo CTAv?

Allan >>> Nossa, deu outra cara pro filme! Alexandre Jardim, o mixador, e o Youssef Jordy são maravilhosos, parceiros e novos amigos. Marina, designer de som, e eu ficamos muito felizes com a acolhida e o trabalho realizado no CTAv. Sem falar que a sala de mixagem é uma das melhores da America Latina. E é público! Foi um trabalho criativo muito prazeroso do tipo que dá saudades. Sensação de estar em casa.

O seu primeiro filme, “Doce de Coco”, foi bastante premiado. Você espera a mesma resposta do público e dos júris com esse novo projeto?

Allan >>> Difícil prever. Tem a questão do tema gay que, infelizmente, ainda causa repulsa em algumas pessoas, daí sei que perco um público, que é exatamente o que eu gostaria que visse o filme para, com sorte, modificar um pouco esse ponto de vista, então contribuiríamos. É um filme simples, sobre a descoberta do amor. Quanto ao júri, torço, imensamente para que gostem, pois isso indica mais participações em festivais e, consequentemente, mais público. É tão difícil fazer cinema que o que mais nos conforta é o filme ser visto, para ele cumprir sua função social. Torço para que gostem do filme. E indiquem. 

Já existe uma perspectiva para o seu próximo filme?

Allan >>> Sim! Um projeto antigo que muito me motiva, um longa-metragem musical baseado em fatos reais, com uma personagem muito controversa. A história é um diamante bruto que preciso lapidar. Adoro musicais e é um gênero que eu gostaria de explorar. Está em fase de desenvolvimento de roteiro.

Onde os interessados em conhecer o curta “O Melhor Amigo” poderão assisti-lo?

Allan >>> Por hora, em festivais e mostras de cinema. Nossa estreia acontecerá dia 13 de setembro no Cine Ceará, o que muito me alegra. É minha terra, onde o filme foi feito e num festival muito querido. Com certeza será uma sessão muito especial, com elenco presente, amigos, amigos de amigos, curiosos… Estou ansioso. Em seguida, vai ser exibido no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte e já temos outros festivais confirmados. Torço para que o filme tenha vida longa!