Apesar de já ter participado de cerca de 20 curtas metragens ao longo da faculdade de cinema da Universidade Federal Fluminense, a sócia da produtora Geringonça Filmes, Tauna Carlier,  não tinha  ainda a experiência de assinar roteiro e direção de uma obra, até a concepção de Trilhas, seu filme inaugural. Mixado no CTAv após a seleção do 2º Período de Serviços de 2013, o seu primeiro curta aborda a descoberta de uma jovem que, antes submersa nas músicas de seu walkman, é levada por uma fatalidade à descobrir um mundo novo, no qual a própria vida tem trilha sonora.

>>Esse é o seu primeiro filme como diretora. Como foi a experiência?

Tauana Carlier >>> Foi incrível, apesar de ser um processo difícil. Fiquei muito feliz de ver quantas pessoas se dispuseram a me ajudar, considerando que trata-se de um filme independente, quase sem verba. Logo, não houve cachê para os integrantes da equipe. Ou seja, quem participou do processo foi porque realmente acreditou no projeto e abraçou o filme. Sou muito grata a todos. Mas é complicado fazer cinema sem grana, tanto que demorou 3 anos para que eu conseguisse finalizá-lo de fato. Mas deu pra aprender boas lições para projetos futuros, principalmente em relação a planejamento.

Como surgiu o conceito, a ideia, de “Trilhas”?

Tauana Carlier >>> A ideia surgiu enquanto eu transferia imagens bem tocantes de outro filme, de uma mídia para outra. Enquanto eu assista às imagens, ouvia música e comecei a pensar sobre o efeito que a música tem sobre nós. Eu sempre gostei de andar na rua ou de ônibus ouvindo minhas músicas e observando o entorno. Ao mesmo tempo que isso faz com que você se distancie um pouco da realidade ao redor, já que os sons da rua não chegam muito aos seus ouvidos, também faz com que você enxergue com outros olhos as pessoas e a paisagem, de acordo com a música que você escuta. Mas também é preciso dar atenção aos sons que te rodeiam e aos encontros espontâneos que podem ocorrer, se você estiver aberto para isso. Então foi mais ou menos isso que eu quis passar com o filme: a descoberta da personagem de que a vida também possui sua própria trilha sonora e que ela pode te surpreender.

No filme, a protagonista escolhe para o seu dia a trilha sonora através de um walkman. Seguindo o mesmo princípio, as músicas te inspiraram para compor a narrativa ou foram escolhidas/ feitas depois para o roteiro já estruturado?

Tauana Carlier >>> As músicas foram feitas depois da imagem do filme já ter sido editada. No processo dos ensaios e da filmagem, eu usei músicas que já existem para criar o clima. Na montagem eu também utilizei essas mesmas músicas como referência para dar o ritmo. Eu quis fazer uma trilha sonora original para poder brincar com esse conceito do efeito que a música causa no espectador, combinada com determinada imagem. Por exemplo, se você usa o plano do rosto de uma mulher com uma expressão neutra, combinada com uma trilha sonora romântica, você passa uma determinada mensagem. O espectador vai supor que ela está apaixonada, saudosa, etc. Se você usa o mesmo plano com uma trilha de rock pesado ou de música clássica, por exemplo, o espectador pode interpretar outra coisa: que a personagem está sofrendo ou está revoltada e por aí vai… Foi essa curiosidade de explorar esses efeitos que me levou a buscar uma trilha original. Mas é algo que eu quero desenvolver melhor, talvez em novos projetos.

Quem assina a trilha sonora do filme?

Tauana Carlier >>> Quem assina é o músico Manoel Magalhães. Fazer a trilha sonora de um filme foi um desafio que eu acho que ele lidou muito bem. Ele captou a sensação que eu queria passar em cada cena e ainda tinha um fator que dificultava ainda mais o processo: eu queria que a trilha fosse composta majoritariamente por canções, ou seja, com letras, não apenas o instrumental. Fiquei bem orgulhosa com o trabalho dele, que envolveu escrever as letras, compor os arranjos para os vários instrumentos e também selecionar os músicos que participariam das gravações das músicas (ele mesmo toca alguns instrumentos e canta uma das músicas). Foi ele também quem sugeriu a música “Dia de Festa”, da banda Casino, que já não existe mais, uma música do filme que não é original.


O filme remete a uma sensação intimista, levando ao público a sensação de ouvir através de um headphone. Como se deu essa recriação sensorial?

Tauana Carlier >>> Essa ideia partiu do Andreson Carvalho, responsável pela edição de som e desenho sonoro do filme. Com a mixagem no CTAv, foi possível utilizar os plugins mais adequados para dar esse efeito do espectador estar ouvindo o que a personagem ouve em seu walkman.

Para conceber esse projeto, você contou com algum patrocínio ou apoio?

Tauana Carlier >>> Sim. O curta Trilhas é resultado de uma parceria entre a Geringonça Filmes (minha produtora), a Universidade Federal Fluminense e o CTAv. Os apoios foram vários também. Por exemplo,  uma barca foi cedida exclusivamente para a equipe do filme, assim como um ônibus para filmarmos durante uma manhã e uma tarde.

Qual foi a sua opinião a respeito do impacto da mixagem executada no CTAv em sua obra ?

Tauana Carlier >>> A mixagem do CTAv fez toda a diferença, principalmente porque trata-se de um filme no qual o som tem um papel fundamental na construção da narrativa. Tornou o filme mais coeso, mais fluido. O Andreson e o Alexandre Jardim, mixador, fizeram todo esse trabalho de recriar as diferente sensações, de um headphone, de uma vitrola e assim por diante…Foi um trabalho excelente, a partir do qual o filme enriqueceu bastante. Sem falar na emoção de assistir ao filme em 5.1.

Já existe uma perspectiva para o seu próximo projeto?

Tauana Carlier >>> Sim, já escrevi o roteiro do próximo curta que quero dirigir, além de longas, séries e outros curtas, que nós, sócias da Geringonça Filmes, temos no papel e colocaremos em prática em breve.

Onde os interessados em conhecer o curta “Trilhas” poderão assisti-lo?

Tauana Carlier >>> Agora que o filme está finalizado, vou começar a enviá-lo para os festivais e mostras. Em breve, também pretendo disponibilizá-lo na internet, para que o maior número de pessoas possa assistir ao meu primeiro curta metragem.