Com patrocínio do Ministério da Cultura via Lei Rouanet, O Centro Cultural Banco do Brasil apresenta a retrospectiva inédita Samuel Fuller: Se você morrer, eu te mato!, homenagem a um dos cineastas mais influentes da história do cinema, o americano Samuel Fuller (1912/1997). Serão exibidos todos os 24 longa-metragens que Fuller dirigiu para o cinema, de Eu matei Jesse James (I Shot Jesse James), de 1949, até La Madonne et le Dragon, de 1990.
“Se você morrer, eu te mato!” é uma fala do personagem Zack, de Capacete de Aço, um dos filmes realizados por Fuller em mais de 40 anos de uma carreira prolífica, porém conturbada, que soma 24 longas e algumas séries para a TV. Fuller foi rotulado de comunista, anarquista, direitista, fascista, primitivo, belicista, iconoclasta, gênio. Independente como poucos, escrevia, produzia e dirigia. Fez filmes violentos e subversivos que recriavam uma fluência jornalística, combinando personagens marginalizados pelo cinema hegemônico, situações limítrofes e temas sociais para travar um embate ético e moral com a sociedade americana pós Segunda Guerra Mundial.
Nascido em 1912 em Worcester, Massachussets, é filho de pais judeus vindos da Rússia e Polônia. Tinha onze anos quando seu pai morreu e a mãe se mudou com os sete filhos para Nova York. O trabalho de Fuller como repórter policial introduziu-o ao submundo, prisões e execuções, ensinando-o a escrever sem adjetivos. Lutou na Segunda Guerra Mundial como um soldado do exército americano, na divisão conhecida como “The Big Red One”. No fim da Guerra, o pelotão de que fazia parte invadiu o campo de concentração de Falkenau, na Tchecoslováquia. Fuller havia ganhado da mãe uma câmera 16mm. Seu capitão lhe ordenou que filmasse as imagens do campo. É seu primeiro filme.
Desde então, Fuller sempre esteve interessado pelo outro lado da história, sempre, como disse certa vez Inácio Araújo, entrando pela porta dos fundos. Seus filmes têm um aspecto retorcido e turbulento, pouco otimista e nada glamouroso. Sua estreia, um western, Eu Matei Jesse James (1949), não conta a história do famoso pistoleiro, mas acompanha Bob Ford, o amigo que atirou nele pelas costas. Bob Ford não está sozinho. A ele juntam-se outras figuras do submundo, como o Skip McCoy de Anjo do Mal (1953) e Tolly Devlin de A Lei dos Marginais (1961), além de outsiders como a descendente de chineses Angie Dickinson de No Umbral da China (1957) ou o policial nissei de O Quimono Escarlate (1958). Além deles, somam-se os repórteres amorais, detetives infiltrados, prostitutas renegeradas de Casa de Bambu (1955), Paixões que Alucinam (1963) e Beijo Amargo (1964).
“Crítico feroz do cinema hollywoodiano – que para ele era sinônimo de cinema não adulto – Fuller fazia filmes baratos que lançavam mão de gêneros comerciais, arrecadavam dinheiro, mas eram ao mesmo tempo desprezados. Poucos realizadores sintetizaram o perfil do cineasta maldito e iconoclasta como Fuller, sempre com um charuto na boca e pronto para a briga quando o assunto era sua independência”, comenta Julio Bezerra, curador da mostra.
Fuller tornou-se herói para toda uma geração de cineastas. Ele foi convidado para atuar em filmes como O Amigo Americano (1977), de Wim Wenders, 1941 (1979), de Steven Spielberg, e Pierrot, Le Fou (1968), de Jean-Luc Godard.
CCBB Rio de Janeiro – 16 de abril a 5 de maio
CCBB Brasília – 26 de março a 14 de abril
CCBB São Paulo – 20 a 31 de março
Fonte: Release Samuel Fuller – Retrospectiva completa