O Centro Técnico Audiovisual – CTAv vem apoiando, com serviços técnicos, dezenas de projetos de curta e longa-metragem. Dentre esses projetos podemos destacar a restauração de obras do acervo fílmico do cineasta Agnaldo Siri. Esta restauração foi fundamental para a realização do documentário de Roman Stulbach sobre a vida e obra do cineasta baiano.
O documentário Suíte Bahia, Reencontro com Agnaldo Siri contou com a co-produção do CTAv no serviço de mixagem e teve uma primeira exibição no MAM – RJ. O filme tem mesmo o sabor de uma homenagem fraterna. Não foi por acaso o diretor Roman Stulbach, montador de quase tôda a obra de Siri, reuniu para realizar este filme amigos mais próximos e principais colaboradores do homenageado: Timo Andrade (roteiro e assistência de direção), Chico Drummond (consultoria), Claude Santos (direção de fotografia), Severino Dadá (montagem), Tuzé de Abreu (trilha musical), Harildo Déda (narração), Edvaldo Gato, Jair Dantas e Ângelo Roberto (ilustrações e letreiros). Como o personagem que conduz toda a narrativa, o documentário conta com a inspirada presença do amigo, ator e poeta Emmanoel Cavalcanti, que em 1974 viveu Gregório de Mattos Guerra em um dos muitos filmes premiados de Siri, O Boca do Inferno.
O filme apresenta ainda depoimentos de cineastas como Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Jr., Guido Araujo, Edgard Navarro, Pola Ribeiro, Tuna Espinheira, José Araripe Jr., de artistas plásticos, jornalistas, poetas, escritores.
A seguir temos um bate-papo com Roman Stulbach sobre sua motivação para levar às telas a trajetória independente traçada por Siri, sua carreira e a importância de resgatar Agnaldo Siri para a nova geração do cinema brasileiro.
CTAv: Roman gostaria que você contasse um pouco da sua carreira profissional, como e quando começou a trabalhar com cinema e principalmente o que te levou a trabalhar com a montagem no cinema?
Roman: Sou da primeira turma de Cinema da ECA – USP me formei em 1970. Fiz meu primeiro filme na escola: “Por Exemplo, Butantã”, em 1969, ganhando um prêmio em Marília. “O Butantã” foi considerado um dos primeiros filmes do depois chamado “cinema marginal”. Ainda freqüentando a ECA, fui um dos diretores do longa “Vozes do Medo”, coordenado por Roberto Santos. Além de direção, me interessei logo por montagem, fui monitor da cadeira e responsável por boa parte das montagens na ECA nas décadas de 69/70. Em 70, montei o longa “Bang-Bang” de Andrea Tonnacci. Daí pra frente dirigi, montei, roteirizei e/ou produzi dezenas de curtas-metragens, filmes de publicidade, documentários institucionais, projetos etc.
CTAv: Como você conheceu o Agnaldo Siri?
Roman: O Siri apareceu em São Paulo, na ECA, em 1970, buscando ajuda para finalizar o seu filme “Sem Saída”. Fui indicado para montar o filme. Daí pra frente começou uma irmandade e parceria profissional até a sua morte, em 1997. Desde “Sem Saída” (1970) até “O Capeta Carybé” (1996) montei todos os filmes de Agnaldo Siri.
CTAv: Qual o legado que o Agnaldo Siri deixou para os cineastas independentes de hoje?
Roman: Siri tinha características especiais, antes de tudo, como homem. Suas atitudes em relação aos semelhantes eram de compreensão, amizade, integração…. Nunca era visto com raiva, procurando vingança, ridicularizando os outros ou coisa assim. Era crítico, sim, às vezes agressivo, nunca bárbaro. Detestava a mediocridade e a falta de respeito pelas coisas do povo, de sua cultura e às suas cidades.
Siri andava sempre com sua imaginação, consciência, atenção, sensibilidade e capacidade de criação, prontas para registrar quaisquer fatos que pudessem transformar-se em documentários.
E levava consigo os mais caros amigos, numa cumplicidade absoluta de sonhos e produção, na aventura apaixonada de fazer um cinema movido, em primeiro lugar, pela busca da liberdade de se expressar, de experimentar, independente de quaisquer obstáculos de mercado, de política, de linguagem…
CTAv: Qual a importância de se rever a obra de Siri dentro de um âmbito que não seja meramente regional?
Roman: Mesmo enfocando temas ligados à sua amada Bahia, a obra de Siri, por sua linguagem longe de mero registro, pela profunda integração com as gentes que enfocava, era um espelho da alma baiana. E alma é universal.
CTAv: O último filme do Siri, “O capeta Carybé” data de 1996. Gostaria de saber como eram as produções do Siri? Ele realizava filmes em que suporte?
Roman: Nas décadas 70 a 90, época em que Siri realizou seus filmes, praticamente só se trabalhava com película. Grande parte de seus filmes foram realizados em 16 mm (suporte mais acessível para produções com pouco dinheiro). Alguns filmes foram realizados em 35 mm, quase sempre a partir de prêmios ou editais que facilitavam aquisição de película, laboratório etc. Nos anos 90 Siri fez 3 ou 4 vídeos, todos em VHS.
CTAv: “Suíte Bahia” já tem previsão de estréia?
Roman: Além de mostras e festivais específicos, pretendemos trabalhar circuitos de arte, universitários, centro
SUÍTE BAHIA, REENCONTRO COM AGNALDO SIRI
Filme de Roman Stulbach
Realização Lumen Produções
Documentário, cor, 75 min., 2007
Ficha técnica
Elenco: Emmanoel Cavalcanti, Harildo Déda, Juju Stulbach, Maria Rosa Espinheira
Direção: Roman Stulbach
Produção executiva: Claudia Castello e Nina Luz
Roteiro: Roman Stulbach e Timo Andrade
Diretores assistentes: André Sampaio e Timo Andrade
Diretor de fotografia: Claude Santos
Montagem: Severino Dadá, Luís Rocha Melo
Edição de som: Luís Eduardo Carmo
Direção de produção:
Rio de Janeiro: Sonia Machado
Bahia: Nelma Belchote
Consultoria: Chico Drummond
Trilha musical: Tuzé de Abreu
Arte Gráfica: Edvaldo Gato, Jair Dantas, Ângelo Roberto